Monthly Archives: November 2008

Zicada (mas nem tanto)

Eu não gosto de fazer post pra reclamar da vida. Quando a gente tá muito zicada, doente, sem grana, morando embaixo da ponte o melhor a fazer é tocar pra frente e fazer algum movimento pra ver se consegue sair do buraco o mais rápido possível. Mas às vezes reclamar da vida é uma tentação irrefreável e dividir as lamúrias com os outros um baita alívio. Mas só às vezes. Depois que eu li o comentário da minha amiga Ju e conversei com Mari – e as duas disseram quase a mesma coisa: ‘o blog tá sem post, você sumiu…’ – achei que podia escrever um pouquinho das zicas dos últimos dias. Mas só porque a essas alturas já estou bem melhor e tudo entra nos eixos – porque nem a maior zica do mundo dura para sempre, certo?

Fato é que meu dente – aquele – infeccionou pela raiz antes que eu pudesse começar a tratá-lo. Na verdade, tinha começado um pré-tratamento, estava tomando um antiinflamatório quando o rosto inchou e a coisa ficou bem feia pro meu lado. E isso não é uma metáfora. Sabem o Kiko daquela série trash de TV, o Chaves? Eu fiquei parecendo a irmã dele. E ainda tendo que aturar o Guilherme tirando onda da minha cara; mãe sofre, viu. Também tive febre, fiquei de cama uns bons três dias. Hoje, quase uma semana depois, estou bem melhor, não sinto mais nada e o rosto quase que desinchou totalmente.

O ruim disso tudo foi ter perdido um dia inteiro do congresso no qual eu estava escalada para trabalhar – já que colocaram meu nome na lista da comissão organizadora e isso conta pontinhos pro Lattes… Acabei indo só na sexta, depois da análise, mas procurei ajudar em tudo o que pude. Monitorei duas sessões de comunicações, fiquei vigiando porta e controlando o barulho numa sessão plenária, fiquei um pouco na recepção dos congressistas, enfim: tentei justificar ao máximo o meu nominho naquela lista. Antes disso já tinha feito um trabalho mais burocrático e ido a algumas reuniões. Então, pra quem teve o ano mais cheio de turbulências como eu (acho que mais do que eu só a minha amada Lia), está bem bão. Não apresentei nada esse ano, até porque sem patrocínio (aka, bolsa de pesquisa) fica bem difícil. Um dia eu conto aqui a novela que foi o cancelamento da minha bolsa de pesquisa pela universidade na qual eu faço o doutorado. Que foi algo tão bizarro que me pergunto se isso aconteceria em qualquer outro lugar do mundo. E antes que me perguntem, não a minha universidade não é federal, mas privada E católica. Já viram, né.

Então, crianças, eu não viajei, eu não morri, eu não surtei. Eu só venci mais um dos inumeráveis obstáculos desse ano, que eu espero ver pelas costas em breve.

Até porque meu ano novo será cheio de coisas boas e belas, macias e encantadoras. Chega logo, 2009.

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SOS

Gente, tem louça de quinta-feira à noite na minha pia. Estarei eu ficando curada do transtorno obsessivo compulsivo?

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Lesada

A pessoa entra no mercado repetindo os nomes de uns produtinhos essenciais que ela precisa comprar; coisas de primeira necessidade, como leite e pasta de dentes.

Meia hora depois a pessoa sai com uma meia dúzia de coisas inúteis e não essenciais na sacolinha, como panetone pra alimentar o bebê de perna cabeluda que ela tem em casa, esquecendo de comprar as coisas supostamente essenciais!! (Updeiti)

Definitivamente, a pessoa em questão precisa se convencer de que as listas de compras não são  um capricho da natureza humana…

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Andarilha

Uma das coisas que mais me fazem falta nessa época de dólar alto e pouca grana é viajar. Eu viajei pouco nessa vida. Tenho amigos que já viajaram o mundo todo, mas eu fui só duas vezes à Europa e algumas poucas andei pela América do Sul. Tenho alma de mochileira, mas nunca pude botar esse lado muito em prática por causa do filho. Depois que ele cresceu as coisas ficaram mais fáceis, dava pra ele ficar com o pai – ou até ir comigo (a primeira viagem internacional da minha vida eu fiz com ele). Então eu já estou me planejando para que assim que as finanças entrarem nos eixos novamente eu possa voltar a carimbar o passaporte.

Alguns lugares novos que eu queria conhecer não são muito convencionais. Eu queria muito mesmo ir à Turquia. Já comprei guia e tudo pra ir me ambientando com o lugar. Ah, e preciso ir à Cuba antes que aquilo acabe.

Acima de tudo, eu planejo voltar a alguns lugares que já visitei e que de alguma forma me marcaram. Um desses lugares muito especiais pra mim é Colónia del Sacramento, uma cidadezinha no Uruguai. Quem é do sul com certeza conhece e já foi lá. Eu ouvi falar de Colónia pela primeira vez lendo uma das muitas revistas de viagem que costumava comprar. É uma cidadezinha linda e charmosa, cheia de ruelinhas e casas antigas. É a única cidade da América hispânica colonizada por portugueses e fica na beira do rio da Prata. Existem muitas maneiras de se chegar lá. Eu fui de Buquebus, partindo de Buenos Aires. O Buquebus nada mais é que um catamarã bem grandão, do tipo desses que tem aqui na minha cidade e que fazem a travessia na baía – só que esses de lá são muito maiores. Dá pra você ir de carro da Argentina até o Uruguai de Buquebus. A viagem durou duas horas e meia (porque eu não fui no que era mais rápido e mais caro), mas eu curti tudo e achei bem divertido.

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O dia estava lindo e deu pra fazer fotos bem legais. Quando a gente desembarca em Colónia, o que se vê é uma cidade pequena e sem muito movimento. Eu cheguei lá sem reserva pra hotel ou pousada. Não consegui achar nenhum hotel que tivesse preço razoável e fotos na internet. Isso foi há quase quatro anos atrás, talvez hoje as coisas já estejam melhores. Então chegamos, tomamos um táxi e saímos fazendo uma busca pelas pousadas da cidade. Não foi muito difícil. Logo achamos um hotelzinho pequeno, limpo, agradável, uma graça. O quarto muito aconchegante e tranquilo e bem arrumadinho. E o preço era bem razoável. Isso é uma das vantagens do Uruguai. Lá você pode lugares legais pra ficar e pra comer sem ter que desembolsar uma fortuna.

Fomos almoçar e depois fazer um tour a pé pela cidade. Vimos várias coisas legais, mas estávamos bem cansados e logo voltamos para o hotel para dormir. Esse foi um erro estratégico – aliás, um dos que eu cometi nessa viagem. Antes de falar do restante da viagem, preciso dizer que nunca viajei de pacote turístico, pela simples razão de que eu mesma sou meu próprio agente de viagens. Quando quero ir para algum lugar, eu compro guia, leio o máximo que posso, fuço na internet, ligo pros hotéis, procuro fóruns de discussão, comunidades no Orkut, enfim: me viro. Nunca me arrependi, mas às vezes a gente comete uns erros de cálculo e Colônia foi um deles. Eu queria muito conhecer Montevidéo e planejei ficar apenas dois dias em Colônia e quatro na capital, mas cheguei à conclusão que deveria ter feito o contrário. Não que Montevidéo não tenha valido a pena. O Uruguai é um país pobre, mas cheio de beleza na sua decadência. Diria que eles têm uma dignidade que me conquistou. Porém, se tivesse sido mais sábia, teria ficado mais uns dois dias em Colônia e encurtado a estadia em Montevidéo. Pelo simples motivo de que aquela cidadezinha na beira do rio tem uma mágica inexplicável. E uma luz muito linda também, como eu pude ver nas fotos depois. Ah, e tem um cassino! Que eu nem pude visitar por falta de tempo…

No dia seguinte à nossa chegada andamos mais um pouco, mas foi o suficiente pra ver que não teríamos tempo de ver tudo e eu fiquei meio triste. Naquele momento decidi que voltaria à Colónia e que faria a maior propaganda do mundo daquela cidade que parece Paraty dublada em espanhol, hehehe. À tarde pegamos o ônibus em direção à capital, uma viagem super-tranquila ao som de Mercedes Sosa. Eu suspirando e olhando pra trás.

Enfim, essa será minha próxima viagem, com certeza. O roteiro já está traçado: Porto Alegre pra rever os amigos mais queridos do mundo, ônibus até Montevidéo (a viagem dura onze horas, o ônibus é ótimo e super-confortável e à noite dorme-se muito bem) e de lá até Colónia. Quem sabe até eu não atravesse o rio e faça uma outra visita à mi Buenos Aires querido.

Vejam as fotos e digam se eu não tenho razão de querer voltar lá:

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Sorry, periferia!

Mas euzinha virei celebridade, hehehe.

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Foto by Alex Castro

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Quer brincar também? Vai aqui.

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Périplo

Então ontem foi o dia da primeira reunião com os aprovados no concurso. Foi bem rápido, até me espantei. Segundo as pessoas de lá, no máximo até a primeira quinzena de dezembro estaremos empossados. Isso depois que eu conseguir superar um mar de burocracia, que inclui dez exames médicos, treze documentos, entrevista com psicóloga, dinâmica de grupo e parecer de junta médica. Dá até preguiça. Mas aí eu penso que, para quem tinha como perspectivas de trabalho para o próximo ano um traço (-), até que tá bem bom. Ser empossada em dezembro, significa que meu nome entra na folha de pagamento em janeiro e em fevereiro eu recebo um salário e meio, a contar da data da posse. Nada mau.

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Daí que saindo da reunião peguei o busão pra Praça XV. Já quase surtando – de cansaço, calor e, principalmente, de fome – resolvi descer na Candelária e ir andando mesmo. Pra poder pegar um ar e andar na muvuca do centro. Não sei se todo mundo é como eu, mas simplesmente adoro o centro de grandes cidades. Ver as pessoas correndo, indo pro trabalho, ver as lojas – ah, as lojas… Daí tive uma brilhante idéia. Ir até uma lojinha enfiada na sobreloja de um prédio comercial pra comprar meu xampu de maracujá da Natura. Todo mundo sabe que a Natura não tem loja. Mas no centro do Rio tem uma sim, que além de vender Natura, vende outros produtos com desconto e pra pagar no cartão. Eu surto com essas possibilidades (um dia eu posto aqui algo sobre meu consumismo moderado…). Muito bem, engoli três bombons comprados no camelô – o pseudo-almoço mais barato do mundo, um reau!! – e me mandei pro lojinha.

Chegando lá, a visão do inferno. Pensem num lugar quente e apertado. Não, seus mentes sujas, não é *esse* lugar. Pensem num mundaréu de mulheres enlouquecidas e  nenhuma organização. Todas – inclusive eu – querendo ser atendidas ao mesmo tempo. Repirei fundo, pensei num monte de coisas cheirosas e baratas na minha frente e encarei. Não sem antes ter vontade de aplicar uma voadora na perua que pulou a fila e foi atendida na minha frente.

Resumo da ópera: saí de lá com o tal xampu de maracujá (a embalagem mesmo, não o refil), um refil de hidratante de hortelã e um hidratante pro rosto. Tudo por R$ 30,00. Unbelievable, né? E ainda paguei com cartãozão. Quem quiser o mapa da mina, é só deixar recado.

Pensando bem, vai ser muito bom *mesmo* trabalhar no Rio de novo.

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Going grrrrreen

A inveja. Ah, a inveja.

Sempre que leio ou escuto alguém se dizendo vítima da inveja alheia, penso naqueles plásticos que as pessoas colam na traseira dos carros: ‘Não me inveje, trabalhe.’ Fofo, né? Eu acho bonitinho as pessoas que se acham a última Fanta gelada do deserto…

As for me, folks, devo confessar que sou um ser humano normal e algumas pessoas – SIM! – me despertam esse sentimento tão vil.

Como, por exemplo, a Penélope Cruz. Gente, a Penélope pega o Javier Bardem (ainda, ou já se separaram?). Tem como não invejar? Motivo semelhante tenho eu pra invejar o Javier. Afinal, ele pega a Penélope. Seria o threesome perfeito, na minha opinião.

Descendo um pouco do Olimpo, eu sinto uma invejinha (misturada com admiração) pela minha irmã mais nova, a Dedéia. Que vai passar o reveillón em Paris!!! Chique no úrtimo – e baita clichê, dirão alguns antenados, torcendo o nariz.

Eu – que não sou moderna, nem antenada, nem coisa nenhuma – acho que existem clichês e clichês. E entre o clichê ‘Copacabana-engarrafamento-show na praia-macumba pra turista’ e o outro ‘Torre Eiffel-baguette-jantar no Sena com o namorado’, adivinhem com qual eu ficaria?

Dedéia, quero ser você quando crescer.

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Updeiti (e à guisa de ilustração)

irmazinha

Olha a Dedéia, gentchi.

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Funeral Blues

By W. H. Auden

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.

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Não, eu não estou triste. O dia está lindo aqui. Veio uma chuva de madrugada e lavou tudo. Quando amanheceu, estava tudo azul e fresco. Mas esse poema eu ouvi num filme que vi essa semana (na verdade, já tinha visto outras vezes, mas ele nunca tinha chamado minha atenção). A profundidade dele me assusta. E eu fico me perguntando se algum dia irei ter um amor assim. Ou mesmo se desejo algum dia ter um amor assim.

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Update: O poema é lindo, mas na minha opinião fica mais belo se ouvido. Vai ai aí o vídeo do filme (Quatro casamentos e um funeral), que nem é  grandes coisas. Mas é uma daquelas ‘pequenas coisas’ pelas quais eu tenho muito carinho.

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Alunos…

As ciências humanas em geral -e a antropologia em particular (alô, amiguinhos antropólogos!!!) – estão a me dever um estudo em profundidade sobre essa categoria singular de gente que são os alunos. Que podem ser muito bacanas e tal, mas quando dão de ser problemáticos, insuportáveis e cri-cris ninguém segura.

Alunos particulares – então – são um caso à parte dentro desse universo discente. É grupo de gente que nunca tem tempo, mas que enfia na cachola que quer aprender inglês pra ontem. Sabe? Na verdade, eles não querem aula, querem milagre. O pior disso tudo é que antes de começar eles têm todo o entusiasmo do mundo, aquilo parece ser a coisa mais importante do universo. Duas semanas depois, entretanto, o entusiasmo começa a arrefecer e o cenário muda. É um tal de ‘estou com problemas’, ‘não vou poder hoje’ e etc, etc que despertam meus instintos assassinos.

Quando comecei minha vida de professora, eu ainda achava que ter aluno particular era sinal de que eu teria dinheiro pra pagar as contas. Hoje já dei adeusinho às ilusões. Você tem, no máximo, dinheiro pra ir à feira, pra pagar o gás, ou pra comprar uma besteira e pagar as passagens. Essas miudezas. Não se pode contar com aquilo nunca, nunca. Dos meus seis alunos atuais, só dois valem realmente a pena. Quanto aos outros, um é cirurgião e vive tendo cirurgias no horário da aula. A outra é empresária e vive sem babá pra tomar conta das filhas (que pelo rodízio de nannies na casa, imagino como devem ser…). A outra é maluquinha e esquece de me avisar – como hoje – que não estará em casa no horário da aula. Nesse caso a regra é clara: não desmarcou? Vai pagar. O problema é que eu sou uma anta e invariavelmente esqueço-me de ditar as regras logo no primeiro encontro – o que já foi mais comum no passado, quando eu não valorizava meu trabalho como devia, mas agora eu já coloco tudo na mesa assim que estabelecemos um primeiro contato.

O fato é que eu me sinto imensamente feliz de no ano que vem não precisar mais me sujeitar aos caprichos dos aluninhos. Como vou ter emprego de gente de novo – com salário na conta no dia certo, por exemplo – vou me dar ao luxo de dispensar os problemáticos e que moram longe (outra praga) e só ficar com aqueles que são convenientes pra mim, que pagam antecipado e nunca desmarcam. Essa história de self-made woman, de ter negócio próprio, de fazer freela pra se livrar das chatices de um emprego comum com carteira assinada nunca me convenceram. O ideal mesmo é manter os dois, mas ter os alunos como algo tão incidental quanto um encontro casual entre amigos. Se der, tudo bem. Se não der, ninguém perde muita coisa.

Na verdade, essa história de nunca saber quando -e SE – vou receber me deixa com os nervos à flor da pele e eu não nasci pra isso.

Pensando bem, acho que a antropologia é pouco nesse caso. Para fazer um estudo sobre os aluninhos particulares problemáticos, só mesmo tendo uma ‘abordagem inter-multi-trans disciplinar’. Ai ai.

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E filho é uma coisa muito doida

Foi isso que eu falei pra Su essa semana, numa conversa dessas de MSN (porque a Su mora longe, né, gente? Tipos que tem um marzão separando a gente, mas temos sempre altas conversas, o que também vem a ser muito doido…). Mas continuando.

Eu estava pensando nisso (essa história de que filho é algo muito louco) por causa do vestibular. Meu filho único faz prova de vestibular amanhã. A primeira de uma série, já que ele vai tentar Relações Internacionais na UFRJ e Economia na UERJ e na UFF. Ele quer mesmo ser economista e parece que leva jeito para a coisa, tá sempre antenado com as notícias do mercado financeiro, engendra altas discussões (dentro das limitações que ele tem por ora) e já arrisca algumas previsões.

Espero não dar vexame e nem chorar feito mãe de noiva, já que no ENEM foi quase isso que aconteceu. Eu fui levá-lo até o local da prova, uns cinco quarteirões aqui de casa. Chegando lá fiquei com aquele papo de mãe: ‘Filho, não vai comprar um lanchinho? Filho, e a água? Filho…’ ‘Mãããããããããeeeee, eu sou macho. Vou entrar lá, fazer prova e pronto.’ Acho que ele usa esses argumentos sem pé-nem-cabeça – tipo ‘sou macho pra caralho’ pra ver se eu páro de falar. Tá certo, eu parei. Ele encontrou uns amigos da escola e foi subindo as escadas, aquele monte de meninos e meninas juntos e eu – a mais piegas das mães – repassando na minha cabeça o filminho da vida dele, desde que fomos apresentados no hospital, ele aquele bolinho enrolado nuns panos, uns olhos muito negros e cabelo (muito) idem. Não preciso dizer que aconteceu. Quase abri a boca ali mesmo de vê-lo tão independente. Tão senhor da sua vida e de suas escolhas.

Filho é coisa muito doida. A gente tem todos os motivos do mundo para não tê-los, mas ainda assim os têm. O meu eu escolhi ter sozinha – coisa que não recomendo a ninguém – e tive a sorte de ser presenteada com um ser humano singular. Amoroso e respeitador ao extremo; decidido, inteligente e bem humorado – mas também teimoso, radical na maioria das coisas, cheio de certezas que eu nunca vou ter. Às vezes batemos de frente, mas logo pedimos desculpas. Temos essa coisa legal de não ir dormir nunca de cara amarrada um pro outro.

Eu meio que me assusto um pouco, porque não me vejo como aquelas mães tradicionais – e em muitas coisas ele é mais conservador que eu. Não importa. Cheguei a essa conclusão. Nossas diferenças têm-nos feito mais bem do que mal, tenho aprendido com ele a não ser tão impulsiva e exagerada, a ter mais disciplina e paciência. Quando preciso de um ombro, ele sempre está lá, mas eu evito sempre que ele me veja chorando. Pode ser exagero meu, mas não gosto. Fico pensando se minhas inseguranças não vão fazer com que ele se sinta inseguro, esquecendo que o montinho de panos chorão cresceu e agora pode me dar colo também. Um amigo meu diz que eu não tenho cara pra ser mãe de um ‘gabiru’ de quase dezoito anos. Já eu acho lindo não ter a cara de mãe de um homem de perna cabeluda, mas mesmo assim desfilar com ele toda orgulhosa, mostrar foto pros alunos e escrever textos sentimentais como esse aqui.

Afinal, mães também são seres sem coerência alguma.

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